

A DEVOÇÃO A SÃO JOSÉ
Entre as inumeráveis devoções promovidas e cultivadas na Igreja Católica, sem dúvida que, depois das de Jesus e de Maria, tem a primazia a devoção a S. José, quer pelas especialíssimas relações que teve com Jesus e Maria, quer pela excelsa autoridade de que foi investido.
Especiais relações com Jesus e Maria – Na verdade, grande diferença há entre o S. José visto com os olhos da fé e o S. José visto pelos olhos do mundo que nada vêem das coisas de Deus (Cf. 2 Cor 2, 14-15).
Como é visto José pelos olhos do mundo senão como um humilde artesão que vive num pobre lugarejo da Galileia, um vulgar carpinteiro que procura ganhar o seu sustento e o da sua esposa e filho? Assim o conheciam os habitantes de Nazaré. Numa palavra: era, praticamente, um desconhecido.
José, porém, é bem diferente visto com os olhos da fé, visto como no-lo apresenta o Evangelho: Ele é «o esposo de Maria» (Mt 1, 16.19) e «o pai putativo de Jesus» (Lc 3, 23). E, nestes dados, nestas poucas palavras está contida toda a eminente glória de José na obra da nossa Redenção, não, é evidente, duma maneira absolutamente necessária como Maria, mas conveniente, por certo, como esposo de Maria e pai putativo de Jesus. Por estas duas fortíssimas relações com Jesus e Maria, a devoção a S. José deve ser a primeira entre todas, depois da devida a Jesus e a Maria.
E também pela altíssima autoridade em que foi investido na terra e no Céu. Com feito, ao afirmar que o Céu concedeu a José amplos poderes sobre o próprio Filho de Deus humanado e sobre a sua Santíssima Mãe, e que ambos, Jesus e Maria, dependiam dele – um com a sujeição filial (Lc 2, 51) e a outra com a sujeição esponsal (Ef 5, 22) –, já se disse tudo de quanto mais excelso e sublime se possa imaginar, sem possibilidade de alguma coisa mais se acrescentar.
A este propósito, recordo o raciocínio de Fr. Ambrósio Potton, dominicano: Traslademo-nos, em espírito, à Santa Casa de Nazaré, pequeno Céu na terra. Nela encontramos três pessoas: Jesus, Rei da Glória, Senhor dos Senhores, verdadeiro Filho de Deus feito homem; Maria, a mulher predestinada, desde o início dos tempos, para ser a Mãe de Cristo e, por isso mesmo, exaltada acima de todas as criaturas, inclusive acima dos próprios anjos, como afirma S. Tomás de Aquino; e José, o mais humilde dos homens, esposo de Maria e pai virginal de Jesus.
Imaginemos, agora, que, um dia, bate à porta desta humilde família de Nazaré um pobre mendigo, necessitado de tudo, doente, extenuado pelos sofrimentos, e solicita ser recebido nesta casa e nela se hospedar. Quem atenderá este premente pedido e dará alojamento a este pobre desgraçado desconhecido? Será a Virgem Maria? Não, por certo, embora seja Mãe de Deus e Rainha do Céu e da Terra; ela conhece perfeitamente os seus deveres de esposa, para não se arrogar tal direito, sabendo bem que deve sujeitar-se ao seu esposo José. Será, então, Jesus, o mais misericordioso de todos os homens, a misericórdia em pessoa? Também não, porque se trata de exercer um acto verdadeiramente próprio da autoridade paternal, e Jesus sabe bem que esta pertence, de verdade, ao seu bom pai Virginal. A quem corresponde, então, satisfazer o pedido do pobrezinho senão a José, legítima Cabeça da Sagrada Família? Será ele a dizer ao pedinte: «Entra, pobrezinho, e fica connosco, debaixo do nosso tecto e sentado à nossa humilde mesa; todas as nossas coisas serão também tuas» (Cf. Jo 17, 10).
Assim, tão grande, era a autoridade de José na terra, na casa de Nazaré. Agora, não é menor a sua autoridade no Céu, onde se encontra junto de Jesus e de Maria. Sabe-se, com efeito, que a morte não destrói os vínculos da vida presente, antes os aperfeiçoa na outra vida. Por conseguinte, também, agora, no Céu, S. José ocupa o lugar que tinha na Sagrada Família, embora, é claro, de outra forma, já que ali seu Filho putativo, Jesus, é o Rei da Glória, e sua esposa, Maria, é a gloriosa Rainha perante a qual se prostram os Anjos. Por isso, no Céu, José não “manda” em Jesus e Maria, como sucedia na terra, na casa de Nazaré, mas, conserva todo o seu poder sobre o coração de ambos. Com efeito, na sua Carta aos Romanos (11, 29), S. Paulo diz-nos que «os dons de Deus são irrevogáveis».
Não admira, pois, que S. Bernardino de Sena afirme que, no Céu, Cristo não nega a José aquela familiaridade e sublime reverência que lhe prestou na terra, como filho a seu pai. Mais ainda: aumentou-as e completou-as. Por outro lado, é constante doutrina da Igreja que os santos gozam, no Céu, não apenas de glória, mas também de um poder correspondente aos méritos e prerrogativas que tiveram na terra. E nenhum outro santo gozou do privilégio de exercer sobre Jesus a autoridade paternal, privilégio único e intransmissível de S. José. Por isso, graça que se peça por seu intermédio, com confiança, é sempre obtida. Santa Teresa d’Ávila, doutora da Igreja e grande devota de S. José, declarou que nunca lhe foi negada qualquer graça pedida, com confiança, por intercessão do Pai putativo de Jesus.
Não nos limitemos, portanto, a recorrer a S. José apenas no mês de Março, a ele particularmente consagrado, mas sempre que necessitemos de alguma graça especial. Um casal – Ivan e Maria Nardi – de Génova (Itália), em 14 de Abril de 1932, publicou este impressionante e comovente testemunho: «Há um ano, no mês de S. José, tivemos a felicidade de ouvir uma série de sermões como preparação para a festa deste Santo. No último dia, o pregador convidou os fiéis a oferecerem um coração votivo no qual cada um indicaria as suas intenções. Nós colocámos sob a protecção de S. José um nosso familiar ateu, implorando a sua conversão, graça considerada impossível, dada a obstinação daquela pobre alma. Decorreu um ano sem o menor indício consolador de mudança naquele nosso parente. S. José, porém, não deixou terminar o mês a ele consagrado sem nos mimosear com a sua extraordinária intervenção. Num dos dias da preparação para a sua festa – que é também a daquele nosso parente –, este confessou-se e comungou, após mais de cinquenta anos de uma vida inteiramente pagã. Profundamente emocionados e felizes, agradecemos ao nosso querido S. José ter-se dignado ouvir e atender as nossas pobres orações».
Para terminar, recordemos as seguintes palavras do Papa Leão XIII, ao Bispo de Grenobla, em 3 de Julho de 1900: «Amemos, de todo o coração, o esposo da Santíssima Mãe de Deus e façamos tudo o que pudermos para que cada dia se inflame mais nos fiéis a veneração a S. José».
* Serviu-me de suporte para este trabalho o livro “Ad Joseph!”, do P. Bianchi, O.P.